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Writer's pictureAryane Oar, MS, RDN, CD

Série: O que é SOP? {parte 2}



SOP e transtornos alimentares ... alguma associação?

Observe que esta é a parte 2 da série O que é SOP? Antes de aprofundar nesse tópico, se você ainda não leu a parte 1, clique aqui para acessá-la e obter uma visão geral da síndrome dos ovários policísticos, incluindo suas principais características, critérios de diagnóstico e aprender como suas alterações metabólicas e hormonais podem afetar os hábitos alimentares.

Então, vamos lá! Conforme explicado na parte 1, as abordagens atuais de tratamento para manejar os sintomas da SOP geralmente envolvem mudanças na dieta e no estilo de vida, incentivando perda de peso, dietas restritivas e exercícios [1]. Os sintomas desse distúrbio hormonal podem afetar diretamente a imagem corporal e a autoestima [2]; portanto, se você estiver deduzindo que as recomendações acima podem levar ao comer transtornado ou ao desenvolvimento de transtornos alimentares... bem, você está certo(a).

Vale lembrar que transtorno alimentar e comer transtornado são problemas diferentes. Transtornos alimentares, como a anorexia nervosa e a bulimia nervosa, têm critérios específicos de diagnóstico e são distúrbios nos quais as pessoas apresentam severas alterações em seus comportamentos alimentares devido a uma preocupação excessiva com o peso e a forma [3]. Nesse caso, métodos inadequados para levar à perda de peso são utilizados, como jejum e exercício físico em excesso, na busca de se adequarem a certos padrões corporais.

Já o comer transtornado é um termo usado para descrever uma vasta faixa de comportamentos alimentares irregulares, que podem levar a um diagnóstico de um transtorno alimentar específico ou não. Sintomas comuns incluem: dieta frequente, ansiedade relacionada a certos alimentos, pular refeições, sentimentos de culpa e vergonha associados à alimentação e preocupação excessiva com alimento, peso e imagem corporal que chegam a prejudicar a qualidade de vida [4].

Mulheres com SOP são mais propensas a desenvolver o comer transtornado ou até mesmo transtornos alimentares, com episódios de compulsão alimentar parecendo ser os mais prevalentes [5]. Como a perda de peso e as dietas são frequentemente recomendadas, mulheres com esse distúrbio hormonal podem sentir que a única maneira de melhorar seus sintomas e conceber uma criança é fazendo dieta. Muitas têm um histórico de “efeito sanfona” antes mesmo de serem diagnosticadas, por terem lutado contra o ganho de peso (sintoma comum da SOP), que muitas vezes leva a padrões alimentares restritivos.

O ciclo da dieta é enganoso e punitivo, e fazer dieta é um fator de risco para desenvolver transtornos alimentares [6]. Normalmente, a pessoa começa uma dieta restritiva com a falsa promessa de que será uma solução rápida e, portanto, começa a restringir os alimentos - cortando alimentos/grupos de alimentos específicos ou limitando a quantidade consumida. Com o tempo, se sentem entediadas diante das opções limitadas. Então, começam a desejar os alimentos que são "proibidos", embora se esforcem para continuar comendo aqueles considerados "permitidos". Inevitavelmente, esses desejos se intensificam e, eventualmente, a dieta acaba sendo quebrada. Comer excessivamente ou comer de forma descontrolada geralmente acontece nesse momento (e é biologicamente esperado; afinal, a pessoa está com fome!). Sentimentos de culpa e vergonha rapidamente surgem e a pessoa tende a criar regras ainda mais restritivas no futuro... e o ciclo recomeça. Parece familiar?

Fazer dieta tem uma extensa lista de desvantagens, mas duas em particular se destacam:

- Nos ensina a ver os alimentos como "bons" ou "ruins" (comer algo considerado "ruim" normalmente desperta sentimentos de culpa); e,

- Nos desconecta de nosso corpo (nos faz perder a confiança nos sinais que nosso corpo envia, como para nos ajudar a decidir quando e o quanto comer).

Confiar na sabedoria do corpo é um passo fundamental, especialmente no contexto da SOP. Abordar os alimentos com neutralidade e estar em sintonia com os sinais do corpo são cruciais. Você pode começar praticando a alimentação com atenção plena e identificando sinais de fome e saciedade para ajudar a se reconectar aos sinais internos e normalizar os padrões alimentares. Ao fazer isso, será mais fácil alterar os hábitos alimentares que ajudarão com os sintomas da SOP.

A terapia nutricional pode ajudar a melhorar seu relacionamento com a comida e fornecerá as ferramentas e o conhecimento necessários para esclarecer quaisquer crenças negativas e falsas sobre os alimentos. Uma abordagem inclusiva quanto ao peso para tratar mulheres com SOP é o ideal, pois impede a realização de alterações no peso à custa do bem-estar psicológico [7]. Assim, sempre que possível, um esforço colaborativo envolvendo nutricionistas, profissionais de saúde mental, endocrinologistas, ginecologistas e, ou médicos que não têm como foco principal o peso, mas sim a saúde geral – física e mental - é a melhor maneira de gerenciar os sintomas da SOP.

Referências:

1. Phelan N, O’Connor A, Tun TK, et al. Hormonal and metabolic effects of polyunsaturated fatty acids in young women with polycystic ovary syndrome: results from a cross-sectional analysis and a randomized, placebo-controlled, crossover trial. The American Journal of Clinical Nutrition. 2011;93(3).

2. McClusky S, Evans C, Lacey JH, Pearce JM, Jacobs H. Polycystic ovary syndrome and bulimia. Fertility and Sterility. 1991;55(2):287-291.

3. Parekh R. What are eating disorders? American Psychiatric Association. https://www.psychiatry.org/patients-families/eating-disorders/what-are-eating-disorders. Accessed July 30, 2020.

4. Anderson M. What is disordered eating? Academy of Nutrition and Dietetics. https://www.eatright.org/health/diseases-and-conditions/eating-disorders/what-is-disordered-eating. Accessed July 30, 2020.

5. Krug I, Giles S, Paganini C. Binge eating in patients with polycystic ovary syndrome: prevalence, causes, and management strategies. Neuropsychiatric Disease and Treatment. 2019;15:1273-1285.

6. Hilbert A, Pike K, Goldschmidt A, et al. Risk factors across the eating disorders. Psychiatry Research. 2014;220(1-2):500-506.

7. Grassi A. PCOS and eating disorders. In PCOS: the Dietitian’s Guide. Haverford, PA: Luca Publishing; 2013.

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